Consequências de mais um ataque

É uma e meia da manhã de terça-feira, dia 17 de Fevereiro, e o último Kerosene acabou há não muito tempo. Estamos num dos quartos privados do Hospital dos Lusíadas, em Lisboa, onde por baixo dos lençóis braços está deitado Alexandre Torres, que ainda não acordou após o ataque que sofreu às mãos de Edward Hosking e Chaser. Ao seu lado estava a sua mulher, sentada num pequeno sofá, segurando-lhe a mão. Está debruçada sobre a cama, toda torta, a dormir.

Alex mexe então a cabeça e abre depois os olhos, vagarosamente. Vira a cabeça para a Natália, com alguma dificuldade, sentindo a tensão nos músculos do seu pescoço. Aperta-lhe a mão, não com muita força, nada disso, mas o suficiente para acordar quem já adormeceu em estado de alerta. Ela levanta a cabeça, olha-o nos olhos. Tem um ar cansado ela, pensa Alex. Está bonita como sempre, mas tem um ar tão cansado, não há como enganar.

Natália (com uma voz miudinha): Acordaste, ainda bem...Como te sentes?

Alex: Podia estar pior. Vai doer mais quanto o efeito da medicação passar. Tu sabes, já estiveste no lugar em que estou agora, não é?

Alex Torres força um sorriso, fazendo de forte para Natália. Os olhos da sua mulher enchem-se de lágrimas. Ela segura-lhe a mão com força, crava-lhe as unhas na palma.

Natália (com a voz a tremer): Desculpa...a sério. Desculpa-me. Eu sei que te meteste nisto tudo por minha culpa. Mas não tens que o fazer mais. Isto não é para ti, Alex. Não é para nós. Não deveria ser para ninguém. Esta federação é o Inferno na terra.

Umas poucas lágrimas escapam dos olhos de Natália, caem-lhe cara abaixo. Alex olha para a mulher e sente toda a sua tristeza. Liberta a mão que a mulher agarrava e passa a ponta dos dedos pela face de Natália, limpa-lhe as lágrimas do rosto.

Alex (num tom reconfortante): Vá...já passou. O pior já passou.