Desculpem

Natália respira fundo antes de falar.

Natália: Gostava, antes de tudo, de pedir desculpa pelo tempo que eu e o Alex demorámos a falar com todos vocês, fãs da UWL, principalmente a partir do momento em que os rumores em redor do meu marido começaram a circular pela comunicação social.

A ex-lutadora de MMA olha directamente para a câmara com algum desconforto.

Natália: A verdade é que as prioridades têm sido outras. Falo das sessões de fisioterapia a que o Alex teve que se submeter depois do ataque que sofreu às mãos de dois cobardes armados com tacos de baseball, do tempo que nos quisemos oferecer para passar um com o outro depois de uma experiência que foi, no mínimo, traumática e, sim, falo também das reuniões que temos tido com alguns dos melhores representantes legais do país, acerca de todos os acontecimentos recentes relacionados com a UWL.

Natália debruça-se sobre a secretária. A imagem capta melhor a sua face, denunciando agora as olheiras profundas sob os seus olhos.

Natália: Sim, o Alex não assinou qualquer rescisão, nem foi despedido, mas é um facto que queremos avançar com a rescisão. Não só o Alex, mas também eu. Mas não nos queremos limitar a isso, não, de todo. Queremos bater-nos com o Bruno Pavão onde ele tem sido mais forte, nos jogos de bastidores, onde as verdadeiras decisões no seio da UWL estão a ser feitas, ao invés do local onde estas realmente deveriam acontecer: que é no ringue, claro.

A mulher de Alexandre Torres exibe um meio sorriso, incrivelmente forçado.

Natália: Espero que compreendam a nossa posição. Quando eu e o Alex assinámos contrato com esta Federação julgávamos que o que teríamos perante nós era um desafio aliciante que interessava a ambos: a possibilidade do Alex se estrear oficialmente enquanto lutador profissional numa Companhia que prometia ser altamente competitiva e onde poderíamos ajudar a fazer crescer o nome de Portugal no mundo dos desportos de combate. Infelizmente, aquilo que encontrámos não foi o que esperávamos.

Natália levanta os olhos directamente para a câmara, fica calada por uns momentos.

Natália: Não se enganem, continuaremos a lutar pelo bem da UWL. Lutaremos para que Bruno Pavão se veja obrigado a passar a Federação a quem a saiba gerir com dignidade ou que, em alternativa, seja forçado a tratar os seus competidores com o devido respeito. Queremos fazer da UWL uma Federação justa e com capacidade para promover não só o Wrestling profissional, no seu estado mais puro, como também todos os verdadeiros talentos que fazem parte da mesma. Uma Federação que viva em função do desporto e não dos egos. Prometo-vos o nosso empenho absoluto por esta causa. Faremos todos os possíveis, tudo o que estiver ao nosso alcance, pelo bem da modalidade e de vocês, fãs que a prezam. Mas não iremos tornar a colocar os nossos corpos em risco. Não voltaremos a deixar o nosso bem-estar à mercê de um lunático. Desculpem-nos por isso, mas, novamente, espero que nos compreendam.

Natália engole em seco. Estas palavras parecem ter custado particularmente a sair. Admitir qualquer tipo de desistência será sempre um golpe no orgulho de quem lutou durante toda uma vida. Ela estica o braço até junto do ecrã, a imagem torna-se negra.